terça-feira, 9 de setembro de 2014

O bom filho a casa torna

De todas as coisas que mais me têm atormentado é saber que descurei o meu cantinho. E de saber o motivo. 
Nada de sentimentalismos...perdi a motivação. Mas não foi só nesta actividade. 
Tentando saír desta apatia foram tomadas decisões e no fundo da questão era necessário regressar. Como diz o bom adágio português...regressei porque preciso disto. 
Quantos pensamentos se me ficaram apenas pelo "sonho acordado" das palavras pensadas e não escritas.

Decisão-base: saír do buraco.

Reflexão: Há cinco anos atrás saí da minha "zona de conforto", ou seja, casa dos pais, para atender à única oportunidade concreta até à data relativa a trabalho. Lá vim eu de mala aviada e computador atrás. Mal aterrei nesta terra não senti qualquer tipo de empatia, nem pelo lugar, nem pelas pessoas. Mas o dever da independência chamava por mim e então lá fiz das tripas coração para me vergar um pouco. Habituada que estava a ser sempre a pessoa estranha e a pessoa que fazia umas avaliações estranhas das coisas. Torci o meu orgulho e cá me deixei ficar. 

Chegada ao meu local de trabalho posso dizer que a minha adaptação não foi uma maravilha. E o que é que aconteceu? Fácil, pessoas. Ora é que eu cá tenho os meus conceitos sobre várias coisas como: educação, personalidade, competição, organização e até trabalho de equipa vejam lá! Toda uma panóplia de coisas que tenho guardado cá dentro, boçalidades para muitos. O choque começou mesmo quando tudo se estava a tornar numa angústia persecutória e nem uma alminha para compreender o meu sofrimento. Se fosse aborrecer os meus pais com todas as contrariedades que me aconteciam coitados, entravam em pânico com a distância. Não, lá me fiz de valentona e embrulhei tudo. E pensei que com isto me poderia fortalecer. Até certa medida acho que consegui. Fui aprendendo a contornar os problemas e a saber enfrentá-los. 

Devido à distância física de tudo o que eu conhecia melhor e gostava, não foram raras as idas aos correios para enviar o meu currículo para tentar fugir daqui o mais rápido possível. Fui inclusivamente a algumas entrevistas e tristemente, apesar de estar a trabalhar, haveria sempre um "não tem experiência em..." que se entrepunha à minha vontade.

No entanto o tempo ia passando e então decidi deixar-me estar sossegada uns tempos para conseguir experiência de trabalho e também o dito "tempo" que em muitos locais me era exigido.

Concentrei-me mais no meu enriquecimento a nível de conhecimentos, o que também não foi fácil nem motivado por quem devia. 

Vida social inexistente. E em boa parte a culpa é minha, ainda hoje o é. Sempre acabo por me deparar com pessoas que acham tudo em mim estranho e nem se dão ao trabalho de tentar perceber. Acabam por me catalogar e pôr de lado. Mas tudo bem, lá tive que superar isso também.

A certa altura Portugal mergulha a pique na crise e o que é que acontece? Cessam os concursos públicos e cessam as minhas remotas chances de voltar, pelo menos ao norte.

Então e agora deixo-me estar? Sim, deixei-me estar.

Por incrível que pareça acontece algo bom, conheço o meu namorado e ele vem viver comigo aqui para  a terrinha. Ora versada que estava já a nível de conhecimento das personalidades-tipo daqui cedo o fui ouvindo tecer comentários muito certeiros. Afinal eu não estava louca :D

Muitas vezes se ouve na televisão que Portugal recebe elogios rasgados como bom anfitrião. Estou convencida até hoje que o meu insucesso nesta terra poderia ter sido revertido se: fosse de facto uma turista estrangeira, tivesse dinheiro aos molhos, andasse sempre pelas tascas a apanhar brutas bebedeiras, me incluísse no grupo das alcoviteiras, passasse horas a fio na praça a "controlar" quem passa, onde vai e com quem vai. Ah! E por último, olhar qualquer estranho com desdém e de cima a baixo como se nunca tivesse visto um ser humano na vida. Até hoje não consigo entender esta cultura, este desnível humano, esta falta de tanta coisa. Conclusão: eu odeio esta terra e esta gente e não vou ter saudades disto!

No trabalho, acabo também por desistir de lutar contra a maré. "Todas as pequenas vitórias me souberam a pouco", como já antes dissera aqui. Tornou-se uma cruzada diária estar naquele sítio, a ver as mesmas pessoas a tomar partido das situações em vez de serem punidas. Então deixem-se lá ficar com essas pessoas medíocres que não estão interessadas no sucesso da instituição mas sim em se fazerem passar por "chefes" da malta e terem todos sob a sua rédea. Comecei a dar por mim num estado de alheamento total, quase como se estivesse a ver as coisas do lado de fora.

Tudo isto parece muito mau e foi...mas adquiri instrumentos para seguir adiante. Não me adaptei, é a vida, assumo e vou então à minha vidinha!

E foi então que se deu o tal empurrão. O tal, não consigo mais respirar e vou-me afogar. Chega de hipocrisia e injustiça, tem que existir um lugar melhor para mim. E vou à procura dele!

Não sei se o encontrei mas só pelo facto de ter conseguido saír deste buraco com um certa solidez, já valeu a pena! Mas não tem que ser sempre assim...não é?

Decisão tomada: novo emprego, nova vida.

Por isso que preciso disto, deste sítio, porque agora parece que vou recomeçar finalmente o que já devia ter começado!

Até breve!