quinta-feira, 5 de junho de 2008

A Primavera em mim tornou-se Inverno

Aconchego-me no canto de um café sobrepovoado e obscuro....
O ensurdecedor rítmo de vozes em escala ascendente não me perturba, apenas existe!
Eu vou...rodopiando o líquido quente da chávena...fazendo representações mentais de conversas paralelas...afundando o meu pensamento noutro alguém.
Obscurece ainda mais o meu coração, sinto o pesar do espaço físico que nos separa....
O pensamento e a memória vão auxiliando a minha mente dormente a te recordar e a te sentir presente ao meu lado!!
Penso: que por entre labiríntos de dúvidas e indecisões, caminhos tortuosos de desespero nocturno e alvoradas nebuladas: és meu!
Recordo: o sabor do vento que partilhamos, das imagens que focamos na mesma íris, nos rítmos descompassados que pulsavam nas mãos ansiosas: serás meu?!
Desloca-se esta pequena realidade em imagens desfocadas e sem som, para um sítio vago mas algo familiar....o mar...o cheiro do mar...o meu coração como bomba entrando em colapso...o cabelo fustigando a minha face...o arfar ansioso de quem tomou o susto nos braços...e sente finalmente uma presença!
Reconhecia-te em qualquer sítio, em qualquer evento, sentia-te mesmo que vendada e perdida numa multidão....
Aproxima-se das minhas costas um calor e conforto, uma protecção e um embalo suave. Uma face que toca a minha, um abraço que me liberta por segundos dos pesadelos que esta luz me causa. Fecho os olhos, respiro fundo esta solicitude...e verto a lágrima amarga da minha existência!
Palavras invisíveis e telepáticas ecoam longinquamente nas nossas mentes harmónicas....o balanço da vontade e a retracção pela antecipação mental do futuro...o recolher à concha da nossa tormenta individual...
Por breves, brevíssimos, ínfimas particulas de tempo, fomos a unificação do querer...mas largamos as mãos para nos perdermos de novo pelo mundo em busca do túnel para a cruel realidade e para vaguearmos em busca de....
De quê mesmo?...Que procuramos nós afinal?...
Negações...negar-te e negar-me...tudo seria sublimalmente etéreo se a acção sempre correspondesse à vontade. Mas quem nos tornou educandos da filosofia do pudismo e nos pautou já a vida antecipando as desilusões???Quem nos barrou (subrepticiamente!) a possibilidade de negar erros do passado e tentar o futuro???

Revolvo os olhos para o interior...

A LUA QUE FECHA AS PORTAS AO MUNDO PARA QUE NINGUÉM A VEJA

Assim sou eu nestes dias...!

Não suporto (ou suporto?) esta amargura, este sabor agreste...quero afastar-me!! Quero correr...não quero que me olhes...não quero que me notes os defeitos nem convertas a minha imagem para o que queres ver...! Deixa-me desnudada e só! Sem reflexo nos espelhos e rasgada nas entranhas... Eternamente esbatida, sombra cinzenta!

1 comentário:

Castores1950 disse...

"Não suporto (ou suporto?) esta amargura, este sabor agreste..."

cara joana. sem querer abandalhar um texto que me parece bastante emotivo... caga pro café e bebe cerveja. Ves como o sabor agreste passa :-)