terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Como eu gosto de ver expressões de falsa importância, quando me declinam em tom de piedade, uma pergunta que me enfurece profundamente:

Mas afinal o que fazes tu durante o dia?

Isto acompanhado de trejeitos faciais, encolher de ombros, pequenos sorrisos contorcidos e disfarçados, tudo embrulhado naquela bela forma social de pretensão, de piedade e algum cinismo pela situação em si!

Eu só posso remoer, responder torto, ficar chateada sem que nada disso me leve de facto a alguma alteração significativa para o problema em questão! Posso sim, por em risco de me afastar de quem gosto por, em algumas circunstâncias, a sua felicidade me fazer mergulhar ainda mais no meu próprio descontentamento.

E ouvir repetidamente o mesmo discurso de encorajamento, sendo bem-vindo apenas aquele que procede de quem realmente se importa mas a rejeitar aquele que provém apenas de "boas maneiras". Isto não é apoiar, muito obrigado mas prefiro que me ignorem!

Se calhar isto é apenas uma má fase, ou antes uma péssima fase que faz desmoronar até a auto-estima! Então surgem os defeitos em tudo...a minha persistente incapacidade em gostar do que quer que seja, de ser amável para os que merecem, de me entediar com tudo! Se calhar até posso voltar as costas, se calhar estou novamente na fase "revoltada com o mundo"...mas sinceramente é isso que ele merece...e não só de mim mas só por mim própria posso falar.

E pensar demasiado na mesmíssima coisa, um defeito terrível que tenho, não me está a ajudar...e eu sei que não estou sozinha...eu sei bem quem são as pessoas que ainda me fazem reter alguma calma! E eu sei por quem tenho que manter a vontade alerta, porque tudo há-de dar certo para nós, mais cedo ou mais tarde! Certo?

E que faço eu afinal? Hum...vejo o sol nascer, ouço estranhos à volta da minha casa a "viver", visto-me em pretensões de "fadinha do lar", desfruto do que mais gosto -leitura e música-, literalmente azucrino a paciência dos que vivem comigo e vou passeando pelos silêncios dos dias à espera que a oportunidade surja, emergente! E o silêncio custa suportar agora! Porquê? Porque deixa-me com pensamentos, em corrente mórbida que em nada ajudam à positividade! E por fim, dado o dia por encerrado, chega a Lua para me dar as boas noites pela janela do meu quarto!

Mas vou sobrevivendo! E vou tentando atenuar esta fase que já perturbou muita gente à minha volta, encerrando capítulos diariamente!!!

Esta agressividade que ainda me caracteriza...e que ainda se mantém residual!

3 comentários:

Anónimo disse...

Querida Joana,
Quantos (mais) dias teremos de cobrir a face, anuir com a leviandade da abstenção perante o que ser humano insiste e persiste em aclamar por vida? Ora, o cansaço é uma forma digna de sobreviver. Não consigo mais retratar a vida pelo étimo de vida, somente vislumbro a densidade da bruma que se apodera do peito, o naufrágio das utopias a fulminar os sonhos, os laivos de intolerância a precipitarem-se nos lábios. Para mim, que admito o narcisismo congénito, a vida não é mais vida. Na verdade, não merece ter outra designação, se o que sentimos é uma lassitude cíclica dos dias, uma inércia volúvel, um torpor selado num reduto apertado. A respiração não é mais respirar livremente na despreocupação dos dias, é sim arquejar pesarosamente com os pequenos passos que ousamos delimitar nas forças que restam.

A minha visão, Joana, já tu a conheces (entropia). Desde que os nossos passos decidiram sulcar-se mutuamente. Para além da mortandade que acabamos por devotar à capacidade de ser, a minha principal preocupação é contigo. Sinto a necessidade de me punir por não te apoiar como seria devido. Pelo menos em nome do respeito, do pulsar incessante dos laços afectivos, deveria manter-te segura em representação da tua imagem genuína. Das tuas vontades não se fazem os dias de outrem, mas sim os teus; por agora tudo parece conspirar no sentido oposto, porém acredito na mudança. Gostaria de te conseguir transmitir esse mesmo cálice de metamorfose preenchido somente por acreditar.

Lamento a minha ausência. Os dias não podiam ser mais resignados às mil e uma paredes, mas as noites sempre exaltam algum conforto. Sinto a tua falta, espero que apesar de tudo estejas revitalizada para a mudança, que te vistas com um veludo adornado por luares de contemplação e que com o coração da vida nas mãos, retires o sangue directamente para as tuas veias.

Deixo-te agora com o crepitar dos ossos num gesto de despedida.

Adoro-te,
Diana


P.S- Por favor diz-me algo, para saber que a nossa existência ainda existe. ^^ <3

Anónimo disse...

“ Mefistófeles:
(...) tudo o que nasce e vês
É digno apenas de morrer outra vez.
Assim, tudo o que no vosso dizer
É pecado, destruição, em suma o Mal –
Esse é o meu elemento original.” – Fausto – Goethe

With all my love,
Artemis (o heterónimo da devastação)

DarkViolet disse...

E quando perguntam o que fazes durante a noite? E se a resposta fôr: escutar o murmúrio do silêncio, chegar perto da solidão e fazer dela uma lareira, cantar à escuridão o quanto ela sabe dançar...é melhor não responder tais coisas:) Melhor dizer que se vai ao cinema.
A Lua é a melhor das amantes;)